A DOCE SAUDADE

O sol aqui na praia do Algarve
É quente e claro, mas não tem o cheiro
Da terra vermelha de Belo Horizonte,
Onde a vida era dela, um mundo inteiro.
Trocou o branco do uniforme de enfermeira
Pelo avental que serve o café,
Mas a gente se encontra e ela me diz,
'O meu coração ainda tem muita fé.'

E ela conta as moedas, as notas, os dias,
Sonhando com o filho e as suas alegrias.
Ela quer voltar, ela quer voltar,
Pra onde o rio encontra o mar, onde pode voar.

Pego um doce e te entrego na passagem,
É só um gesto, não tem outra razão.
Vejo no seu olhar, no sorriso cansado,
A força de um sonho no seu coração.
Ela fala do filho, que ainda é um menino,
Mas que também só quer o seu lar.
Longe de tudo isso, ele me diz,
'Meu lugar é lá, eu quero voltar.'

E ela conta as moedas, as notas, os dias,
Sonhando com o filho e as suas alegrias.
Ela quer voltar, ela quer voltar,
Pra onde o rio encontra o mar, onde pode voar.

Eu sei que a vida lá não é só flores,
Que o mundo mudou, as cores, os sabores.
Mas quando a gente ama a sua casa, a sua história,
Será que a cidade ainda te espera, ou é só uma memória?
E eu fico aqui, pensando e esperando,
Se um dia o seu coração vai parar de chorar.

E ela conta as moedas, as notas, os dias,
Sonhando com o filho e as suas alegrias.
Ela quer voltar, ela quer voltar,
Pra onde o rio encontra o mar, onde pode voar.

end